18 Mar 2015
Cachoeira do Campo surgiu ainda no final do século XVII, época em que os bandeirantes descobriram ouro na região de Vila Rica (atual Ouro Preto). Conta-se que teria sido Fernão Dias Paes quem primeiro se utilizou das águas de uma cachoeira situada naqueles arredores, sendo que daí derivaria o nome do local. Nas imediações não existiam minas auríferas, mas, devido ao clima ameno e solo favorável ao plantio, a localidade logo se tornou um dos pontos de apoio agrícola, de onde saíam alimentos para a efervescente Vila Rica.
Pelos idos de 1724 foi um dos primeiros povoados mineiros a receber uma ‘paróquia’, intitulada como “Parochia de Nossa Senhora de Nazareth dos Campos de Minas“.
Cachoeira do Campo e a construção da Matriz
Ao longo de sua história, Cachoeira do Campo seria palco de importantes episódios da história mineira, incluindo conflitos da Guerra dos Emboabas, e também a captura de Felipe dos Santos, o idealizador da Revolta de Vila Rica. Ali também foi construído, em 1773, um palácio para os governadores de Minas, que preferiam residir ali do que em Ouro Preto, considerada úmida e ‘agitada’.
Mas a melhor testemunha do passado desse local é sua igreja matriz, cuja construção foi documentada pelas atas das irmandades que ali existiam, principalmente a do Ssmo. Sacramento e a de Nossa Senhora do Rosário. Em uma dessas atas, há a menção a um entalhador chamado ‘Mef’ de Mattos, que teria executado a maior parte das obras dos altares. Embora por volta de 1725 a igreja já estivesse praticamente concluída, muitas outras obras de embelezamento ainda seriam acrescidas com o tempo – por exemplo, o arco cruzeiro, o coro e as pinturas do teto. Vale lembrar que todas essas obras foram financiadas pelos próprios membros das irmandades, que se esforçaram para que a igreja ficasse o mais bela possível.
A fachada da matriz passou por uma reforma no século XIX, ficando bastante simples e sem características dignas de nota. Mas em contrapartida, seu interior é de uma beleza exuberante: ali, há cinco altares na mais refinada talha dourada, esculpidos na variante do barroco conhecida como ‘Estilo Nacional Português’ – essa modalidade se caracteriza sobretudo pelos altares formados por arquivoltas concêntricas. Em Minas Gerais esse estilo é geralmente encontrado em altares de igrejas que foram construídas antes de 1730.
Como a matriz de Cachoeira do Campo foi construída ao longo de vários anos, outras variações de estilo também se fizeram presentes, principalmente no elegante coro, cujas colunas, bem como a balaustrada ondulada, seguem a variante barroca chamada de ‘estilo Dom João V’.
Atualmente, Cachoeira do Campo permanece sendo um distrito de Ouro Preto, e sua matriz é considerada uma das mais belas dentre as igrejas históricas de Minas Gerais.
Sobre a padroeira
A devoção a Nossa Senhora de Nazaré teve origem em Portugal, surgida em torno de uma antiga imagem da Virgem cuja autoria era atribuída ao próprio São José, esposo de Maria. Segundo a tradição, no ano 361 essa imagem teria sido levada de Nazaré (Israel) para o Mosteiro de Caulina, na Espanha, e, em decorrência de uma batalha contra os muçulmanos, foi transferida para Portugal, onde, por muito tempo, ficou desaparecida. No ano de 1119, foi encontrada e colocada em uma igreja, onde passou a atrair peregrinações. A partir daí, outras igrejas foram construídas em territórios portugueses em homenagem a Maria com o título de Nossa Senhora de Nazaré.
Em terras brasileiras, há diversas igrejas sob essa invocação, sendo que as mais célebres se encontram em Salvador, Belém do Pará, Saquarema, e Cachoeira do Campo.
O coro da igreja foi construído alguns anos depois dos altares, seguindo o estilo Dom João V.
Abaixo, pintura do teto da capela-mor, representando a Santíssima Trindade coroando Maria como Rainha do Universo.
Fonte: Patrimonio Espiritual